31 de mai. de 2010

Só Deus Pode Me Julgar

 Não sei porque cargas d'água, existem música que me acalmam, que fazem carinho por dentro, que mesmo não externando minha revolta ou rebeldia fazem com que me sinta melhor. Costumo dizer que existem pessoas que não fazem música mas sim hinos, essa música do MV Bill diz tudo que penso, sinto e sem medo de julgamento algum coloca pra fora a realidade deste Brasil  através de sua letra. Essa versão ao vivo, em particular tem um arranjo muito bom, sou uma fã declarada  do RAP com banda. Pra quem não conhece, abra a cabeça , aguçe os ouvidos e entenda...
 

A Letra...

Só Deus Pode Me Julgar 
Mv Bill

Vai ser preciso muito mais pra me fazer recuar
Minha auto-estima não é fácil de abaixar
Olhos abertos fixados no céu
Perguntando a Deus qual será o meu papel.
Fechar a boca e não expor meus pensamentos
Com receio que eles possam causar constrangimentos
Será que é isso? Não cumprir compromisso
Abaixar a cabeça e se manter omisso.
A hipocrisia, a demagogia se entregue à orgia
Sem ideologia, a maioria fala de amor no singular
Se eu falo de amor é de uma forma impopular
Quem não tem amor pelo povo brasileiro
Não me representa aqui nem no estrangeiro
Uma das piores distribuições de renda
Antes de morrer, talvez você entenda
Confesso para ti que é difícil de entender
No país do carnaval o povo nem tem o que comer
Ser artista, Pop Star, pra mim é pouco
Não sou nada disso, sou apenas mais um louco
Clamando por justiça, igualdade racial
Preto, pobre é parecido mas não é igual
É natural o que fazem no senado
Quem engana o povo simplesmente renúncia o cargo
Não é caçado, abre mão do seu mandato
Nas próximas eleições bota a cara como canditado
Povo sem memória, caso esquecido
Não foi assim comigo, fiquei como bandido
Se quiser reclamar de mim, que reclame
Mas fale das novelas e dos filmes do Van Daime
Quem vive no Brasil, no programa do Gugu
Rebolo, vacilou, agachou e mostrou
Volta pra América e avisa pra Madonna
Que aqui não tem censura meu pais é uma zona
Não tem dono, não tem dona, nosso povo ta em coma
erga sua cabeça que a verdade vem à tona.
É! Mantenho minha cabeça em pé!
Fale o que quiser, pode vir que já é!
Junto com a ralé Sem dar marcha ré!
Só Deus pode me julgar, por isso eu vou na fé !
Soldado da guerra a favor da justiça
Igualdade por aqui é coisa fictícia
Você ri da minha roupa, ri do meu cabelo
Mas tenta me imitar se olhando no espelho
Preconceito sem conceito que apodrece a nação
Filhos do descaso mesmo pós-abolição
Mais de 500 anos de angústia e sofrimentos
Me acorrentaram, mas não meus pensamentos
Me fale quem... Quem!?
Tem o poder... Quem!?
Pra condenar... Quem!?
Pra censurar... Alguém!?
Então me diga o que causa mais estragos
100 gramas de maconha ou um maço de cigarros?
O povo rebelado ou polícia na favela?
A música do Bill ou a próxima novela?
Na tela, seqüela, no poder corrupção
Entramos pela porta de serviço
Nossa grana não
Tapão ... só pra quem manda bater
Pisando nos humildes e fazendo nosso ódio crescer (CV)
MST, CUT, UNE, CUFA (PCC)
O mundo se organiza, cada um a sua maneira
Continuam ironizando
Vendo como brincadeira, besteira
Coisa de moleque revoltado
Ninguém mais quer ser boneco
Ninguém mais quer ser controlado
Vigiado, programado, calado, ameaçado
Se for filho de bacana o caso é abafado
A gente é que é caçado, tratados como Réu
As armas que eu uso é microfone, caneta e papel
A socialite assiste a tudo calada
Salve ! Salve ! Salve!
Oh ! pátria amada, mãe gentil
Poderosos do Brasil
Que distribuem para as crianças cocaína e fuzil
Me calar, me censurar porque não pode fala nada
É como se fosse o rabo sujo falando da bunda mal lavada
Sem investimento, no esquecimento, explode o pensamento
Mais um homem violento
Que pega no canhão e age inconseqüente
Eu pego o microfone com discurso contundente
Que te assusta uma atitude brusca
Dignificando e brigando por uma vida justa
Fui transformado no bandido do milênio
O sensacionalismo por aqui merece um prêmio
Eu tava armado mas não sou da sua laia
Quem é mais bandido? Beira mar ou Sérgio Naya?
Quem será que irá responder
Governador, Senador, Prefeito, Ministro ou você?
Que é caçado e sempre paga o pato
Erga sua cabeça pra não ser decepado
É! Mantenho minha cabeça em pé!
Fale o que quiser pode vir que já é!
Junto com a ralé Sem dar marcha ré !
Só Deus pode me julgar por isso eu vou na fé !
Como pode ser tragédia a morte de um artista
E a morte de milhões, apenas uma estatística ?
Fato realista de dentro do Brasil
Você que chorava lá no gueto ninguém te viu
Sem fantasiar realidade dói
Segregação, menosprezo é o que destrói
A maioria é esquecida no barraco
Que ainda é algemado, extorquido e assassinado
Não é moda quem pensa incomoda
não morre pela droga, não vira massa de manobra
Não idolatro a mauricinho da Tv, não deixa se envolver
Porque tem proceder Pra que? Porque?
Só tem paquita loira, aqui não tem preta como apresentadora
Novela de escravo a emissora gosta mostra os pretos
Chibatadas pelas costas
Faz confusão na cabeça de um moleque que não gosta de escola
E admira uma intra-tek, Clik-clek Mão na cabeça
Quando for roubar dinheiro público
Vê se não esqueça
que na sua conta tem a honra de um homem envergonhado
Ao ter que ver sua família passando fome
Ordem e progresso e perdão
Na terra onde quem rouba muito não tem punição
É! Mantenho minha cabeça em pé!
Fale o que quiser pode vir que já é!
Junto com a ralé Sem dar marcha ré!
Só Deus pode me julgar por isso eu vou na fé !

28 de mai. de 2010

Franko Xavier

Não encontrei nada de nada sobre ele, o jeito é conversar com os amigos músicos e garimpar essa história. O que sei é que os metais são o máximo e conheço as músicas  são todas uma beleza!!! 

Quem nunca ouviu Mané João? Curte aí!

Viagem no tempo

Nunca falei desse tempo por aqui, mas sempre tiveum forte influêcia a me organizar, sentir-me parte de algo e algo que fizesse dessa vida tão dura para alguns e tão gerenosa para outros, um pouquinho melhor e mais igual para todos.

Com 5 anos de idade já saía de casa e as vezes ficava fora uma semana porque ia junto com um cadidato a vereador e sua esposa fazer campanha, o meu Tio Biglia e a Tia Virginia. Que não eram meus tios de verdade mas me trtavam como sua sobrinha. Aos 8 ou 9 anos já ia pra manifestações com  a minha mãe, ela servidora pública e sindicalista na época me levava e eu adorava! Saía com o apito de brigadiano que era do meu avô fazendo a maior bagunça.

Na escola sempre fui metida, segundo as professoras que chamavam  a minha mãe " uma líder negativa" que falava demais durante as aulas e não andava só com a sua turma, ás vezes me pegavam em outras salas de aula que não eram as minhas... Nesta época estudava no Santa Catarina,  ajudei a criar a rádio comunitária da escola, contribuia com o Grêmio Estudantil. Logo, logo mudei de escola, por dezenas de coisas fui para no Colégio Dante Alighieri, o melhor do mundo (já não existe mais).

No Dante já era militante, já tinha filiação partidária e em 2002 fui eleita a Presidente da União Caxiense dos Estudantes Secundaristas - UCES. Esta foi a maior eleição direta  para entidade estudantil já realizada no Brasil. Em outro momento vou falar mais sobre a experiência não só da UCES mas da UBES também entidade que fui vice-presidente.

Comecei a contar tudo isso, porque semana passada estava conectada à rede e falei com um amigo, o Claiton Stumpf, jornalista que acompanhou toda essa história bem de perto durante os anos de UCES. Ele estava fazendo uma matéria sobre a UCES e o Movimento Estudantil  e pediu que eu respondesse algumas perguntas, respondi... fui na quela caixa de fotografias guardada na última prateleira da estante e garimpei, fotos, garimpei materiais gráficos da época e claro fui remetida ao passado. Respondi suas perguntas com inspiração e relembrando importantes momentos. Foi uma delícia  viajar no passado.  Então coloquei aí anexo o fruto da entrevista, uma matéria que foi publicada hoje no Jornal Tempo Todos de Caxias do Sul.

Ao Claiton, tenho de agradecer pela viagem que foi boa e inspiradora e lembrar ... sou tua fonte há tempos né guri!  Dá próxima vez que eu for a Caxias ... te devo uns chops mas o Fredy tem que estar junto para darmos muitas risadas.

25 de mai. de 2010

Nostalgia

Quem não lembra da propaganda da Faber Castell? Cresci ouvindo, ainda mais com a coisa querida do toquinho. Momento nostalgia!

Tem endereço!

Olha confesso que neste post imitei uma grande amiga... Já que ela me autorizou mesmo, está ai poema de Elisa Lucinda,  lindo,  lindo, lindo! A propósito estou acitando presentes e um livro dela não cairia nada mal!


Da chegada do amor


Sempre quis um amor
que falasse
que soubesse o que sentisse.
Sempre quis uma amor que elaborasse
Que quando dormisse
ressonasse confiança
no sopro do sono
e trouxesse beijo
no clarão da amanhecice.


Sempre quis um amor
que coubesse no que me disse.
Sempre quis uma meninice
entre menino e senhor
uma cachorrice
onde tanto pudesse a sem-vergonhice
do macho
quanto a sabedoria do sabedor.


Sempre quis um amor cujo
BOM DIA!
morasse na eternidade de encadear os tempos:
passado presente futuro
coisa da mesma embocadura
sabor da mesma golada.
Sempre quis um amor de goleadas
cuja rede complexa
do pano de fundo dos seres
não assustasse.
Sempre quis um amor
que não se incomodasse
quando a poesia da cama me levasse.
Sempre quis uma amor
que não se chateasse
diante das diferenças.


Agora, diante da encomenda
metade de mim rasga afoita
o embrulho
e a outra metade é o
futuro de saber o segredo
que enrola o laço,
é observar
o desenho
do invólucro e compará-lo
com a calma da alma
o seu conteúdo.
Contudo
sempre quis um amor
que me coubesse futuro
e me alternasse em menina e adulto
que ora eu fosse o fácil, o sério
e ora um doce mistério
que ora eu fosse medo-asneira
e ora eu fosse brincadeira
ultra-sonografia do furor,
sempre quis um amor
que sem tensa-corrida-de ocorresse.
Sempre quis um amor
que acontecesse
sem esforço
sem medo da inspiração
por ele acabar.
Sempre quis um amor
de abafar,
(não o caso)
mas cuja demora de ocaso
estivesse imensamente
nas nossas mãos.
Sem senãos.
 Sempre quis um amor
com definição de quero
sem o lero-lero da falsa sedução.
Eu sempre disse não
à constituição dos séculos
que diz que o "garantido" amor
é a sua negação.
Sempre quis um amor
que gozasse
e que pouco antes
de chegar a esse céu
se anunciasse.


Sempre quis um amor
que vivesse a felicidade
sem reclamar dela ou disso.
Sempre quis um amor não omisso
e que sua estórias me contasse.
Ah, eu sempre quis um amor que amasse.

PS: Tem endereço...

Isadora

Pois que és Isadora
Dança, dança, dança.
Não direi agora
Que ainda és criança
Mas quando chegares
À idade da trança
Dança, dança, dança
Dança até cansares.
Dança, dança, dança
Como na Ásia dançam
As moças de Java
Pois que és Isadora,
Dança como outrora,
Como linda outrora
dançava, dançava
Isadora Duncan

Manuel Bandeira

18 de mai. de 2010

Sol



Essa é das que fazem carinho por dentro..."Sol" Slim Rimografia.

Simples

Desde que resolvi sair de casa aprendi muitas coisas, o dia-a-dia em Porto Alegre me faz rever milhares de coisas por minuto. Uma delas são os valores os quais fui ensinada a ter. Nasci em Caxias do Sul, filha única de mãe solteira, ela relações públicas. Além desta mãe, fui criada com um avô/pai que viveu por pouco tempo ao meu lado só até meus 7 anos de idade, a partir daí restou a mãe, e a minha adorada vó essa dispenso comentários se não vou me debulhar em lágrimas, pois ainda não me adaptei e não sei se irei me adaptar com sua ausência.

Por parte de pai passei a ter um  "respeitado" sobrenome aos 11 anos de idade, nunca dei muita bola para isso, aliás uma das coisas que aprendi foi conhecer e respeitar as pessoas pelo que elas pensam e são não pelo que elas possuem.  Minha infância foi rodeada de livros infantis, uma mãe que me contava história até meus 15 anos de idade, meus tio eram o "Tio Mozart" e o "Tio Bethoven" como conhecia eles? Ouvindo suas obras nos bons e velhos LP's. Costumava correr pelo teatro da Casa de Cultura, estudar música, artes, praticar esportes, correr por aí.

Nunca me faltou nada, não tinha  as roupas de marca, os melhores biscoitos ou as carnes sem gordura, ou todas outras frescuras que hoje em dia se dá para para as crianças em busca de algo que não é palpavel mas tive muito conhecimento e amor, o suficiente para me tornar uma pessoas mais "humana" mais sensível. Não me  importava por não ter, eu tive o que é mais importante amor, compreensão, conversa , respeito e muita confiança.

Nessa vida, fui criada com poucos bens materiais, porém preparada para ter o bom e o ruim, o gostoso e o menos gostoso, o fácil e o difícil. Acredito que fui bem preparada para ela. Aprendi a gostar e amar o simples, viver o simples, respeitar o simples... sempre sabendo e estando preparada para o complexo ou o luxuoso.

Tenho algo a dizer... o simples me faz feliz. Só tenho a agadecer!

13 de mai. de 2010

Entrevista com Nilo Feijó Presidente da Associação Satélite-Prontidão

Entrevista com Nilo Feijó Presidente da Associação Satélite-Prontidão, sociedade negra centenária fundada em 1902 na cidade de Porto Alegre. A História do povo negro em Porto Alegre passa por aqui. Essa entrevista foi publicada no blog ennegritto.zip.net

Como nasceu a Associação Satélite Prontidão?

Nilo Feijó: O Satélite Prontidão na realidade é a união de duas associações. A primeira delas é a Associação Satélite Portoalegrense (ASPA), fundada em 20 de abril de 1902. O interessante é saber o porquê dessa segunda sociedade. A primeira foi criada com a intenção das famílias negras poderem conversar trocar idéias, discutir a parte cultural, além do lazer e do entretenimento. Também tinha o foco voltado para a educação. Porque se repararmos a ASP foi fundada apenas 14 anos após a abolição da escravatura. Pegou um período em que o país passava por um processo de crescimento industrial, e o negro era analfabeto por imposição. Não tinha como competir em um mercado como esse. Então as primeiras sociedades já tinham a idéia de investir nessa questão da educação por ver que o negro estava em desvantagem. Não só o Prontidão, o próprio Floresta Aurora, fundado em 1872 já tinha essa missão de trazer para a comunidade algo além de entretenimento. E para mim era também era um centro de resistência para a comunidade, era uma forma de evoluir em um contexto totalmente negativo. Pouco antes da abolição foi decretada uma lei que dizia que quem tinha uma terra, teria o direito de tê-la como sua. Justo, pouco antes da abolição, uma lei que impede o negro de ter seu chão, e vemos até hoje as brigas pelos quilombos.

E a segunda sociedade?

NF: A história da segunda sociedade veio um pouco adiante. Em uma noite de carnaval, quatro ou cinco jovens resolveram fazer uma fantasia e foram em um baile do Satélite na Cidade Baixa. Nem todos tinham dinheiro para pagar o ingresso. Então resolveram fazer uma fila indiana e romperam o salão gritando: “Pron-pron-prontidão! Pron-pron-prontidão!” Há quem pense que era prontidão de alerta, mas na época a gíria para ‘pobre’ era ‘pronto’. Quando alguém não tinha dinheiro dizíamos: “fulano está pronto”.Essa idéia acabou criando corpo, muitas famílias gostaram do gesto dos rapazes. Eles ganharam a festa! E resolveram criar outra sociedade chamada Sociedade Carnavalesca Prontidão, em 1º de março de 1925. Em 1956 essas duas sociedades resolveram se unir.

Por quê? Como aconteceu?

NF: Porque o que aconteceu com a ASPA? O bloco dos rapazes representava juventude, era a força jovem. A ASPA era uma pessoal de mais idade, e a juventude passou a freqüentar o Prontidão. O Satélite ficou com as festas mais tradicionais, os jantares, bailes do ano e em 1956 resolveram se juntar.

E onde funcionava?
NF: Quando o Satélite tinha atividades conseguiu comprar na Rua Olavo Bilac um terreno pequeno, mas não conseguiu fazer a sede. Quando ouve a fusão, o Prontidão, que nunca tinha tido sede lembrou-se do terreno. Eles o venderam e compraram o terreno da Aparício Borges, 288. Onde é até hoje. Foi quando se consolidou a Associação Satélite Prontidão (ASP).

Como eram visto os grupos sociais negros?

NF: Os grupos sociais negros possuem uma importância histórica na sociedade brasileira. Certamente extraíram dos quilombos a coragem e a compreensão que também poderiam e deveriam construir seus coletivos. Entendendo que a sociedade branca e dominadora não lhes concederia espaço, passaram a interagir com as suas comunidades, empenhando-se na formação de seus núcleos sociais, muitos com atividade há mais de cem anos, como a ASP.Eu sempre digo que a sociedade negra é diferente da sociedade branca por vir de outro contexto, a escravidão. Muita gente afirma que o Floresta Aurora foi criado, os negros forros o criaram porque quando os negros morriam eram atirados em valas comuns ou em um campo qualquer. Imagina que tratamento que se dava lá na origem (África) a uma pessoa que morria. Vemos isso inclusive pelos ritos que se professam dentro das religiões africanas quando morre alguém do grupo. Sabemos que é um ritual todo preparado. Imagine essa gente vendo seus negros atirados, seus irmãos atirados.

Quais eram as atividades no início?

NF: Uma das primeiras atividades e compromissos das sociedades era de comprar terrenos para poder enterrar seus mortos. Depois veio a necessidade de educar. Sempre foi feito porque havia uma carência a ser suprida. Por isso a sociedade negra não foi criada apenas para o lazer e entretenimento, era um centro de resistência, um núcleo cultural, político inclusive, para poder dar assistência. Outra questão que falo sempre é a da saúde. Imagina como era a saúde da sociedade negra antes e logo após a escravidão quando até para os brancos era complicado. Se não fossem os tratamentos trazidos de berço, das infusões, dos chás, não tinha nada. E mesmo quando se tratava de uma epidemia, como a nova gripe agora, levava-se tempo para saber o que podia ser e como minimizar esse mal. Até isso morriam milhares.

As associações são unidas? Trabalham juntas?

NF: Hoje o pessoal está trabalhando na Associação dos Clubes Negros, que envolve todos os clubes do Brasil, eu estive em Sabará onde 28 entidades de várias partes do país também estavam, porque o governo tem dado um apoio muito grande, tem entendido essa idéia de que o clube negro é um patrimônio histórico que deve ser preservado.

Como era a divisão das associações?

NF: Minha mãe nasceu em 1915 em Caçapava e estudou em Cachoeira. Ela contava que havia ruas na época em que negro não podia passar, quem dirá participar de um clube. Certamente, vários problemas devem ter acontecido de discriminação. Como no futebol. Muitos criticam o Grêmio, mas nenhum clube aceitava negros. Por isso foram obrigados a criar a Liga da Canela Preta para poder participar. Até que os brancos perceberam que os negros jogavam bem e abriram espaço. Mas a divisão era muito clara para os dois lados.

Quando se deu a mudança?

NF: Com o tempo a sociedade branca se abriu e causou um problema para a sociedade negra porque os clubes sociais negros começaram a ter dificuldade em conquistar a participação do jovem. Alguns jovens negros começaram a freqüentar boas escolas, não a maioria, mas uma parcela conseguiu estudar, ir para uma faculdade e acabaram participando de outras instituições. Normalmente as sociedades negras foram construídas com problemas de edificação, sem um acompanhamento técnico e acabaram ficando um tanto acanhadas. Isso causava um sentimento de baixa auto-estima, o jovem começou a ir no Sogipa, no União e começou a olhar esses clubes e comparar com a sociedade dele que não era igual. Por isso se buscou apoio para que os grupos negros fossem se qualificando. Nós achamos até que temos uma questão a mais. Geralmente o que move as sociedades? Entretenimento, esporte... Nós, não. Nós temos outras missões como a cultural e a educacional; não é, mas devia ser política também. Por isso temos poucos nomes na política. Recordo-me quando entrei para o Prontidão de duas questões estatutárias interessantes. Não se discutia religião e nem política. Isso era estatutário! O que é um absurdo, afinal política faz parte de nossas vidas e a religião te dá um norte!

Quando o senhor entrou para o Satélite Prontidão? Sempre foi envolvido nessas causas?

NF: Eu tinha 20 anos e entrei na realidade para três sociedades. O Clube Náutico Marcílio Dias. Uma das maiores idéias que a comunidade negra teve foi fundar os clubes náuticos, que tiveram seu período áureo. Ganharam a simpatia de outros clubes náuticos que deram uma frota ao clube, mas a comunidade não conseguiu mantê-lo e ele terminou. Além do Marcílio Dias, entrei também para o Floresta Aurora e o Prontidão, ao mesmo tempo, em 1958, e nunca mais abandonei! O Marcílio Dias infelizmente terminou o Floresta Aurora eu só não freqüento mais por causa das atividades aqui no Prontidão. Faço o que posso, pois acredito que se não for assim a coisa não evolui.

O senhor já tinha idéia do que queria ao entrar para as associações ou o negro não tinha muita opção?

NF: Na idade que eu tinha eu não tinha o esclarecimento que tenho hoje, mas entrei também porque não tínhamos opção. Sempre tive espírito construtivo. Não consigo chegar a um lugar e ficar ali parado, sem operar. Sempre quero me meter e fazer alguma coisa para ajudar, e esse é meu mal porque quando eu via estava no meio da diretoria.

Há quantos anos o senhor está na diretoria do ASP?

NF: Aqui no Prontidão estou há muitos anos, já fui vice-presidente de dois ou três presidentes, até que não pude fugir mais. Dessa última vez já estou na presidência há alguns anos, já fui reeleito duas vezes. Tive um período de dois anos, fui reeleito por mais dois e agora mais quatro anos. Já fui diretor cultural também. Sempre gostei muito disso porque acho que se alguém não faz, não acontece. Pessoas com a mesma idéia e vontade têm de se juntar.

No RS não somos maioria, numericamente falando. O senhor acha que isso cria no negro gaúcho uma identidade diferente?

NF: Eu acho que no RS, nós tivemos inúmeros grupos negros, ao mesmo tempo, só em Porto Alegre. Nossa comunidade tem carregado sua bandeira com muita força. Podemos ilustrar isso com o 20 de novembro, uma idéia que nasceu aqui. É interessante porque aqui não somos maioria, somos uma minoria que, em determinado momento, tornou-se até um pouco privilegiada. Quem sabe, até por ser minoria a gente se juntava mais. Há uma diferença enorme se comparamos com a Bahia, por exemplo. Lá é o berço da negritude, 80% da população é negra, mas acho que já se contribuiu e produziu muito aqui no RS. No Rio de Janeiro também. Lá a sociedade se mesclou se misturou muito cedo, com predominância do português. Isso fez com que o carioca fosse mais diferenciado. Lá temos muitas cabeças importantes. São Paulo também, mas acho que aqui temos um diferencial. Se procurarmos os registros de grupos negros no RJ não temos a quantidade que temos aqui no RS. Veja a quantidade de casas de religião que temos aqui no RS, mais do que na Bahia!

Como o jovem de hoje vê os grupos negros?
NF: Tem uma questão que também é primordial que são as desigualdades. Esse é um dos maiores problemas do nosso país e isso é meta do governo. O governo sabe! Eu sempre comparo o Brasil como uma formação de várias etnias, uma corrente que é o país por inteiro. Se uma etnia, que é um elo dessa corrente, não está legal, a corrente toda não está legal. O país hoje tem consciência disso. Porém, quem foi que perdeu 400 anos? O negro! Hoje somos obrigados a recorrer a uma série de artifícios para tentar amenizar esse problema, esse atraso. As cotas, muitos são contra, mas isso nos é devido. Também não gostaríamos de recorrer a esse tipo de coisa, mas quem está em cima quer continuar lá. O famoso status quo... Sempre se quer o mesmo ou mais ainda. Hoje estamos recorrendo o poder. Nos nunca o tivemos! Queremos competir. Por isso acho que a juventude está mais atenta porque ela está sofrendo a conseqüência disso. Uma vez fiz parte de uma empresa que fez uma seleção. Havia seis moças e cinco vagas. Um das que concorriam às vagas era negra, e foi a única que ficou de fora, apesar de ser a mais qualificada. Perguntei para quem tinha feito o processo de seleção o porquê e ele me respondeu: eu pensei que ela podia causar problema no futuro. A única maneira de mudar essa situação é nos qualificando, estudando. Tendo em mente que para a sociedade negra é muito mais difícil.

Aqui na ASP existe um curso pré-vestibular diferenciado, não é? Como funciona?

NF: Sim, o criamos há 14 anos. Não poderíamos e nem queríamos fazer um curso só para negros. Isso também seria discriminação. Temos no curso muitos brancos que também têm problemas, carências. E aqui nós concorremos com a falta de dinheiro, condução, as pessoas trabalham oito horas e depois têm de vir direto para cá e ficar mais algumas horas aqui com fome. Iniciamos com 50, 55 alunos e no final o pessoal vai desistindo. Quem tem um pouco mais acaba indo mais longe. Aqui no curso os professores não ganham nada, participam para ajudar e passar o que sabem.

Quanto custa para os alunos?

NF: R$15 a matrícula e R$25 a mensalidade. No inicio era gratuito, mas com o tempo vimos que gratuito não era bom. Então estipulamos esses valores por entendermos que quando damos e não cobramos o curso não é valorizado. Esse dinheiro usamos para um lanche que fazemos para os alunos, material necessário para eles mesmos. A Associação não usufrui de nada.

A maioria dos alunos é negra?
NF: Aqui a comunidade procura, mas poucos vão adiante. Além do que já citei, eles enfrentam também o desestímulo familiar, por incrível que pareça! Há famílias que dizem: “Poxa negão para que estudar? Se chegar agora em uma obra e tem emprego mais fácil...” Ate pode ter. Eu entreguei jornal e não acho que seja demérito. Que trabalhe, mas não se pode esquecer o outro lado. Que ele pode crescer e vencer. Isso mostra que nesse bloco dos necessitados nós estamos abaixo também.

Qual o resultado desse trabalho?

NF: Por aqui já passaram mais de 700 pessoas e 30 já entraram na UFRGS. Muitos podem dizer: poxa, só? Em 14 anos? Mas é importante!Temos um médico que estudou aqui. Um negro que concluiu medicina foi orador da turma na formatura e era o único negro que tinha na turma. Eu estava lá para ver a cerimônia.

E o que significa a Associação Satélite Prontidão hoje?

NF: Hoje o Satélite é importante pelo tempo. Ele é uma jóia, como aquelas que guardamos por anos com muito carinho pela história e envolvimento. É o Prontidão das raízes, pela maneira como foi construído, pela vontade que tem de produzir mais ainda. Sem as desigualdades não precisaríamos de políticas públicas. Somos todos brasileiros e deveríamos usufruir dos mesmos direitos, sabemos que essa condição é utópica para a comunidade negra. Medidas compensatórias e reparatórias nos são devidas não só pelos resultados produzidos pelos longos anos de cerceamento da nossa liberdade e direitos fundamentais, mas muito mais pelos reflexos que essa grande ferida ainda hoje produz, entretanto, não estamos apenas querendo servir e produzir para a sociedade negra, mas à sociedade por inteiro. Fazendo isso, todas as associações, negras ou não-negras, trarão um ganho para o país.

5 de mai. de 2010

A Matriz do Swing/samba rock na Casa da Cultura Negra


A Matriz do Swing/samba rock na Casa da Cultura Negra

Associação Satélite-Prontidão traz neste sábado a lendária banda de Swing/Samba-Rock da década de 70, formada por Bedeu “Papa do Swing”, Leleco Telles, Alexandre, Cy, Leco do Pandeiro e Nêgo Luis. O "Grupo Pau Brasil" influenciou o ritmo no centro do país, sendo até hoje junto com Luis Vagner, a raiz do gênero no Sul.

O Grupo Pau Brasil volta aos palcos com quatro de seus componentes originais, mais participações do Maestro Marco Farias nos teclados, Giraia na bateria, filho do Mestre e Zê na voz e violão e guitarra - in memorium BEDEU E LELECO TELLES .


Serviço:

08 de maio

Sábado de Swing e samba-rock com a Banda Pau-Brasil!

Swinga Brasil, Mr Funk Samba e show com o "Grupo Pau-Brasil mais" DJ Piá com o melhor da Black Music e Samba Rock!


Entrada R$ 15,00.

Início às 24h


Satélite-Prontidão a Casa da Cultura Negra
Av. Cel. Aparício Borges, 288 (Nova Perimetral)
Fone: 33151973

2 de mai. de 2010

Árida Saudade

Quem disse que ele não faz samba?Faz sim e samba canção! vale apena curtir o novo clipe do Tonho Crocco, além da música sert daquelas que faz "carinho por dentro" o videoclipe ficou 10! A direção é do Padeiro!



Quando você não estava aqui
A tristeza fez o meu mundo secar
Lágrimas faltaram, lastimas sobraram
Onde era oceano, ficou o deserto

Quero você, quero aqui
Árida saudade, não quero mais
São as leis do amor, se água molha a flor
O mundo é o errado, nós somos o certo

Você voltou e a sede acabou
Fez inundar minha vida com a sua verdade
Você chegou e a seca terminou
Fez transbordar de luz e de felicidade

Mata a minha sede, rega meu jardim
Amor, por favor não se esqueça de mim
Amor, por favor não se esqueça de mim
Amor, por favor não se esqueça de mim